Imagem de Jaroslav Šmahel por Pixabay A crise no Sudão ganhou mais um capítulo de tensão após o comandante das Forças Armadas sudanesas, g...
A crise no Sudão ganhou mais um capítulo de tensão após o comandante das Forças Armadas sudanesas, general Abdel Fattah al-Burhan, rechaçar publicamente uma proposta de cessar-fogo apresentada por mediadores internacionais. A negativa, divulgada em vídeo no domingo (23/11), frustrou expectativas de avanço nas negociações entre o governo e o grupo paramilitar Forças de Suporte Rápido (RSF), rival no conflito que devastou o país.
O plano de trégua vinha sendo trabalhado por Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Egito. Nele, estavam previstas medidas para interromper os ataques, reorganizar estruturas de segurança e permitir acesso contínuo à ajuda humanitária. Para al-Burhan, no entanto, a proposta compromete a soberania do Estado sudanês.
“É um documento que desmantela o Exército nacional e fragiliza as instituições de defesa”, afirmou o general, acrescentando que não aceitaria qualquer acordo que, em sua visão, conceda vantagem às milícias rivais.
RSF havia sinalizado apoio ao acordo
A recusa do governo ocorre menos de três semanas após a RSF anunciar que estava disposta a aderir ao cessar-fogo. O grupo, comandado por Mohamed Hamdan Dagalo, tem avançado sobre regiões estratégicas do país, incluindo áreas do estado de Darfur. A captura de Al-Fashir, considerada um dos últimos bastiões das forças estatais na região oeste, intensificou a pressão internacional por uma solução negociada.
Apesar do movimento das RSF, fontes diplomáticas afirmam que o ambiente político interno e a disputa pelo comando das instituições de segurança impediram qualquer possibilidade de consenso.
Conflito prolongado e crise humanitária sem precedentes
Desde abril de 2023, quando as tensões entre al-Burhan e Dagalo explodiram em confrontos abertos, o Sudão vive um dos cenários de maior devastação no mundo. Organizações humanitárias estimam que mais de 150 mil civis tenham sido mortos e que cerca de 13 milhões de pessoas tenham sido obrigadas a abandonar suas casas, muitas delas fugindo para países vizinhos sem estrutura para recebê-las.
A guerra interrompeu rotas de suprimento, comprometeu hospitais e destruiu centros urbanos inteiros. Com a deterioração da segurança, comboios de ajuda internacional têm enfrentado obstáculos para chegar a regiões onde a fome já ameaça milhões de sudaneses.
Negociação segue incerta
Nos bastidores, diplomatas envolvidos na mediação dizem que continuarão tentando persuadir as partes a voltar à mesa de diálogo, mas reconhecem que a negativa de al-Burhan reduz significativamente as chances de um acordo imediato.
Enquanto isso, organizações internacionais alertam que a escalada recente do conflito em Darfur pode produzir novos fluxos de deslocados e agravar a já crítica situação humanitária no país.
